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Tatuador do DF usa hipnose para anestesiar clientes
Técnica permite tattoos sem sangramento e melhor cicatrização, diz artista. Barulho da máquina com agulha serve como forma de aprofundar transe; vídeo mostra diferença entre sessões
André Lino usa hipnose para anestesiar clientes durante tatuagem no DF
Para quem vê de fora, a promessa de tatuagem sem dor parece propaganda enganosa. Mas, é o que garante o tatuador André Lino, de Taguatinga, no Distrito Federal. No estúdio dele, tinta e agulhas têm a mesma importância que as milenares técnicas de hipnose. São elas que permitem horas e horas de pele furada com o cliente sob “anestesia”.
Segundo o tatuador, a ferramenta da hipnose funciona com seis entre cada dez clientes – são os que têm mais capacidade de se “entregar” ao processo. Quando acontece o transe, os efeitos surpreendem. “É tão impressionante que a tatuagem não sangra, não fica irritada e a cicatrização é mais tranquila”, afirmou o profissional de 33 anos, nascido em Curitiba.
Tatuador há dez anos, André Lino começou a aliar hipnose à tatuagem em 2011. “Eu vi que vários clientes reclamavam de agulha e de ideias como tirar sangue ou ir ao dentista, em geral. Conheço até gente muito tatuada que desmaia ao ver agulha”, declarou.
“Então eu pensei que teria de resolver esse problema recorrente. O de como tatuar essa pessoa que vai sofrer com a dor e ainda pode se mexer o tempo todo e atrapalhar o desenho.”
Foi por meio de um mentor em Brasília que ocorreu o primeiro contato com esse universo, durante um curso de micropigmentação (maquiagem definitiva). “Esse professor tinha um conhecimento muito grande de holística e acupuntura. Ele me falava que era possível fazer amputação de membros só com agulhas em lugares estratégicos. E me disse que a hipnose tinha o mesmo efeito. Foi assim que comecei a procurar.”
André Lino usa hipnose para anestesiar clientes durante tatuagem no DF
Em transe
Autodidata, o tatuador foi atrás de livros e cursos sobre o assunto. Os primeiros “cobaias” foram os amigos. “A maioria das pessoas com quem você fala a palavra hipnose já vem com medo, não tem conhecimento. O que eu faço primeiro é deixá-las à vontade e explico como funciona, como o cérebro funciona.”
“Eu digo que o cérebro entende que a dor é importante para nos manter vivo. Mas o que eu faço é desligar aquela dor por um momento enquanto faço a tatuagem: a pessoa não precisa passar por aquela dor.”
A sessão de tatuagem em transe é oferecida como “um brinde”, sem custo adicional “Antes de começar o procedimento, eu percebo quando a pessoa está nervosa. Aí dou a ideia da hipnose e quase todas aceitam. Quando o cliente vai acompanhado, o outro fica vendo se tem algum estímulo. Não acreditam no que veem”, continuou.
O barulho quase irritante da máquina de tatuar não é impedimento para o cliente ficar imerso no próprio subconsciente. “Como eu trabalho com a maquininha sempre ligada, dou a sugestão de que aquele barulho vai relaxar cada vez mais”, revelou o tatuador — que desenha desde criança por influência dos pais, também artistas. Isso permite longas sessões de “agulhamento” com o mesmo efeito anestésico.
Uma das pessoas que experimentaram o conceito de tatuagem indolor no estúdio é a estudante Julianne Maryelle, de 25 anos. “Não tive medo de tentar. Durante, não senti dor nenhuma, apenas muito sono. Cheguei até a cochilar. Já tinha feito várias tatuagens, porém sempre senti muita dor. Assim que ele fez a hipnose, não senti nada”, descreveu.
Segundo Julianne, o restante da sessão seguiu como qualquer outra. “Fiquei feliz demais com o resultado. Eu não acreditava que daria certo, e deu. Foram horas e horas. E por incrível que pareça, não senti nada”, continuou a estudante. O vídeo abaixo compara o estado dela enquanto se manteve transe e um outro dia, em que ela foi tatuada da forma convencional (veja vídeo).
Presente Hipnótico
“Eu nunca cobrei a mais pela hipnose. Para mim, é uma ferramenta que ajuda as pessoas. Consegui perceber que funciona para tudo. Vi que muitas pessoas com depressão ou ansiedade conseguem sair muito bem desse estado. Termino dando um ‘presente hipnótico’, até para o amigo que está só acompanhando”, retoma o tatuador.
Um dos momentos que relembra com maior carinho é quando fez a primeira tattoo de uma idosa de 67 anos: uma rosa nas costas. “Ela chegou dizendo: ‘Minha neta me contou que você faz tatuagem sem dor, mas morro de medo de agulha’. Desde pequena ela tinha vontade, mas tinha uma família muito rígida. E deu certo. Creio que se não fosse a hipnose, ela nunca teria tatuado.”
André Lino usa hipnose para anestesiar clientes durante tatuagem no DF
O mistério e a curiosidade que envolvem o assunto acabou ajudando a estabelecer a fama dele, pelo boca a boca. De acordo com o artista, no estúdio dele — baseado na Samdu Norte — aumenta cada vez mais a procura de pessoas que não têm intenção de fazer tatuagem alguma. O objetivo é outro: indo desde o interesse por emagrecer a deixar de vez o vício pelo cigarro.
O que André Lino pratica nos outros, também emprega com ele mesmo. “Já fiz duas tatuagens sob autohipnose com um amigo me tatuando. Não sei se dormi. Foi como se fosse um sonho lúcido. Só me lembro que tinha colocado o fone de ouvido com uma música bem relaxante.”
Com agenda cheia até o fim do ano, ele sintetiza em uma frase o que sente em relação à hipnose. “É algo que faz parte da minha, que mudou minha forma de viver e que também me permitiu mudar a vida de muitas pessoas.”
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